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Empreendedores fazem ‘moeda girar’ e empregam nas próprias favelas em Minas


Mauro Henrique Mendes Salvador, dono da Barbearia Mendes, no Morro do Papagaio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte | Foto: Flávio Tavares / O Tempo

Por: Gabriel Resende

Sebrae divulga dados sobre o perfil dos empresários em programa para impulsionar comércios em comunidades do Estado


O potencial dos comércios para movimentar a economia de favelas é provado por pesquisa do programa “Comunidade Empreendedora”, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae MG). Conforme o levantamento, divulgado nesta quarta-feira (8), 91% dos empresários entrevistados empreendem dentro das próprias comunidades onde residem, o que promove também geração de empregos, com 88% dos funcionários sendo locais.

“Os empreendimentos fazem a moeda girar na periferia”, analisa o afroempreendedor Mauro Henrique Mendes Salvador, de 32 anos, que há oito anos administra a Barbearia Mendes, no Morro do Papagaio, região Centro-Sul de Belo Horizonte. O espaço atende uma média de 250 clientes por mês. Há três anos ele emprega o próprio primo, também morador da comunidade. 

Mauro considera que falta “incentivo educacional para que os empreendedores de favela entendam mais sobre gestão de negócios”. Esta é justamente a lacuna que o programa “Comunidade Empreendedora” do Sebrae quer preencher. A pesquisa para mapear o perfil dos empreendedores foi o primeiro passo para isso, conforme explica o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae, Marcelo de Souza e Silva.

Segundo ele avalia, o estudo traz um “conhecimento mais profundo dos comércios existentes nas comunidades” e os resultados vão pautar ações para promover empreendimentos. “Como podemos trabalhar o empreendedor, ajudar a família, os filhos, a empregabilidade. São vários pontos, e a pesquisa traz um levanto mais profundo”, avalia.

Presidente da Central Única das Favelas de Minas Gerais (Cufe-MG), Francis Henrique dos Santos cita três benefícios gerados por empreendimentos para as comunidades. O fomento da economia é um deles. “Produz renda e riqueza ao local. Além disso, as pessoas passam a conviver mais tempo nas comunidades e, naturalmente, revindicar melhorias”, argumenta. 

Francis também cita a “geração de emprego” e questões relacionadas à mobilidade urbana como benefícios a partir dos empreendimentos. “As pessoas compram próximo de casa e ganham em qualidade de vida, porque gastam menos tempo para se deslocarem. Também reduz a poluição, devido ao menor uso de veículos”, afirma.


Oportunidade 

A pesquisa identifica potencial dos empreendimentos em aglomerados de atrair consumidores e parceiros comerciais, segundo Marcelo de Souza e Silva. “Existe uma rede muito forte dentro da comunidade. Temos ações específicas de melhoria que farão com que essa comunidade gere o dinheiro e se comunique com o mundo fora do aglomerado”, diz.

Essa oportunidade de crescimento é citada pelo empreendedor Gilson Pereira dos Santos, de 54 anos, dono do Bar e Choperia do Safadinho, na Vila Santana do Cafeza, no Aglomerado da Serra, região Centro-Sul da capital mineira. 

“Eu gero emprego para pessoas do aglomerado, e quero expandir meu negócio. Temos ações que fazemos pensando em crescer para atender meu público e atrair mais pessoas para meu bar”, contou. Para isso, ele aposta em manter as “características da favela".

O empreendimento de Gilson está na categoria das principais áreas de atuação de empreendimentos em comunidades. Alimentação e bebidas representam 24% dos comerciantes mapeados pela pesquisa, seguido por beleza e estética (14%), vestuário e acessório (10%), reparos domésticos (9%) e festas e entretenimento (6%).

Para Marcelo de Souza e Silva, o estudo também aponta caminhos que podem se desenhar como oportunidades para empreendedores nas favelas. Ele cita as seguintes áreas: móveis e utensílios, eletrodomésticos, eletrônicos e serviços para reparos de equipamentos eletrônicos de carros e motos. “São áreas que às vezes você pode até ter empreendimentos, mas não na quantidade que a comunidade precisa”, detalha.


Formalidade

A maioria dos entrevistados (79%) são Microempreendedores Individuais (MEI), programa que possibilita formalidade a pequenos empresários. Marcelo de Souza e Silva avalia: “É uma ferramenta impulsionada pelo próprio Sebrae para o empreendedor ser visível. Isso traz dignidade. Ele consegue pagar um valor baixo e ter a previdência.”

Marcelo pontua que além da formalidade para o empreendedor, o modelo empresarial também fomenta a geração de empregos com carteira assinada, devido às condições especiais de contratação. “Consegue trazer mais uma pessoa para a formalidade. Muitos que são MEIs contratam formalmente porque tem a facilidade”, cita.

Este é o caso do Mauro, dono da barbearia no Morro do Papagaio e entrevistado no início da matéria. Segundo o empreendedor, a contratação do primo com quem trabalha foi possível a partir das condições oferecidas pelo modelo empresarial. “São muitas vantagens e consigo ter esse colaborador formal”, comemora.


“Comunidade Empreendedora”

O estudo, realizado em parceria com o Data Favela e o Instituto Locomotiva, ouviu 1.004 empreendedores de comunidades da região metropolitana de Belo Horizonte (Aglomerado da Serra, Alto Vera Cruz, Conjunto Taquaril, Morro Alto e Nova Contagem), Araçuaí (Calhauzinho), Montes Claros (Bairro Cidade Conferência Cristo Rei), Araguari (Bela Suíça I, II e III, Independência, São Sebastião, Monte Moria e Vieno) e Congonhas (Residencial Gualter Monteiro). 

A partir dos dados, o Sebrae quer pautar ações de impulsão a empreendimentos em comunidades da capital e interior do Estado. O próximo passo do programa será a a realização de um diagnóstico sobre a maturidade dos empreendimentos para criação de um plano de ação que inclui capacitações individuais e coletivas sobre gestão empresarial. 

Inicialmente o projeto será implementado em comunidades da região metropolitana de Belo Horizonte e deverá se estender para outras favelas do interior do Estado.


O Tempo


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