Sobre o desaparecimento da profissão docente
Imagem: do site Justificando. Divulgação / MCTIC
Para pensar o ofício do professor as pesquisas científicas marcam os seguintes termos: saberes docentes, profissão docente, profissionalização docente, trabalho docente, a formação docente etc.
A amostragem apresenta uma ideia multifacetada do trabalho da docência da qual deriva uma série de práticas dos professores em relação a sua função social. No geral, esses termos carregam consigo a importância dos professores no processo educativo. Os docentes são marcados como um dos principais atores da história da educação, objeto privilegiado de investigação e, fazemos aqui mais uma análise sobre o trabalho deles.
Formalmente os docentes são sujeitos que passam grande parte do seu tempo atuando no ensino como sua ocupação principal, seu modo de vida. Os docentes trabalham sob um sistema de leis e dispositivos que marcam a sua função, acompanhando parâmetros de formação, o que os ligam a cursos, workshops, certificações, etc. ao longo de toda uma carreira. São perseguidores, e perseguidos, até mesmo oprimidos de certa maneira, pelos excessos de inovações pedagógicas. Sempre correndo atrás de novas portarias, decretos, reformas pedagógicas.
Os saberes docentes são disputados. Variados grupos, representantes de diferentes concepções de sociedade, educação e política, lutam para indicar quais seriam os conhecimentos mais importantes que devem ser divulgados, a partir do seu próprio trabalho. Professores são divulgadores de ideias e de mundos e são legalizados para fazer tal coisa. Professores possuem o monopólio da função que exercem. Essa espécie de poder social é legitimada e legislada e, em tese, ganha voz de autoridade por ser uma necessidade, de ampla envergadura, sendo apresentados à sociedade como um corpo competente de sujeitos, reconhecidos como um coletivo que profissionalmente produzem conhecimento e dominam as formas de fazê-lo.
Docentes são reconhecidos como categoria de trabalho. São norteados por bases éticas. Se reuniram também, historicamente, de maneira corporativa, atuando e sendo abrigados por entidades sindicais de proteção.
Revela-se aqui, o aspecto sócio histórico da categoria, já que as transformações do caráter social dos professores estão dialeticamente associadas às discussões sociais sobre o exercício de sua função. Os professores como profissionais estão sujeitos à diferentes interesses sociais, políticos e econômicos que incidem sobre a sua forma de atuação. Os professores são difusores de projetos de sociedade da mesma maneira que são poderosos agentes para a sua construção. Também é um coletivo de mobilização. Quando entram em contradições com projetos que não lhes sejam interessantes ou visem à destituição desse monopólio profissional, principalmente exercido em escolas, normalmente saem às ruas. Esses profissionais podem aceitá-las, rechaçá-las, modificá-las a depender do contexto de sua ação e a conjuntura histórica. Professores tem o poder de ser, para o bem, para o mal, competentes ou não, transformadores do seu próprio universo de trabalho, e, ainda que se pudesse descartar a ideia de “corpo coletivo reivindicativo”, estão atentos à liberdade de sua prática de ensino.[1]
Por ser uma força social decisiva, no sentido de formação de coletivos e difusão de conhecimentos, não me estranha que a categoria profissional passe por um processo de deslegitimação, até mesmo de desaparecimento no mundo atual.
Nota:[1] Antônio Nóbrega tem muito a ver com essa passagem sobre a profissão docente, bem como a profa. Libânia Nacif Xavier (UFRJ) em texto sobre a profissão docente.
Fonte: Justificando.
Por: Katya Braghini
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